LITERATURA
Um dos tipos mais mentirosos de reportagem é a biografia, seja quando o biografado é o autor, ou apenas objeto jornalístico. Nas biografias, ora o herói é superestimado, ora é subestimado, mas a tendência, geralmente, é a de romantizá-lo. Esvai-se, aí, o homem; fica o mito. Além do mais, a distância no tempo constrói outras realidades, de modo a recriar-se também outra personagem, sem que se dê o resgate do objeto inicial da biografia.
Quando a biografia é ficção, invenção, mentira literária de primeira categoria, então é literatura genuína, com personagens de carne, osso e alma. Assim, da mesma forma que a ficção, as biografias são um gênero literário que nos proporcionam grande prazer, pois recriam os heróis nos momentos mais emocionantes de suas vidas.
Peso pesado, viril e belo, o ficcionista Ernest Hemingway foi pugilista, matou búfalos selvagens, rinocerontes, elefantes e leões, capturou tubarões e grandes espadartes, esteve no front de três guerras e obteve favores sexuais das mais belas e famosas fêmeas de sua época, entre as quais a atriz Ava Gardner, o então mais belo animal do mundo.
Acima de tudo, revolucionou a prosa com O Sol Também se Levanta, em 1926, quando tinha apenas 27 anos de idade. Na juventude, já escrevia coisas como Lá em Michigan. Adeus às Armas o fez milionário aos 30 anos. Aos 40, ao publicar Por Quem os Sinos Dobram, era já uma celebridade mundial, que agitava a mídia à sua passagem. Em 1952, publicou O Velho e o Mar, poesia em prosa da mais alta categoria.
Em 1954, recebeu o Nobel. Por tudo isso, Hemingway foi uma das celebridades do século vinte sobre quem mais se escreveu, produção que continuou incólume depois que o gênio americano se matou aos 62 anos, em 22 de julho de 1961.
É sempre um prazer ler Hemingway e sobre Hemingway, porque, além de viver intensamente, ele é daqueles escritores que fazem a gente sentir o cheiro da bebida que seus personagens bebem, personagens tão vivos que até dá vontade de a gente telefonar para eles. Já pensou, então, Hemingway envolvido numa trama policial?
Pois é isso que faz o escritor cubano Leonardo Padura Fuentes. Convidado a participar da série Literatura ou Morte, da Companhia das Letras, Fuentes nos presenteou, a todos nós, hemingwayanos, com o romance Adeus, Hemingway.
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