MEIO AMBIENTE

Vindos das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, estudantes de Medicina Veterinária atravessaram os rios Tapajós e Amazonas para chegar à base flutuante do Projeto Peixe-Boi-da-Amazônia, localizada na comunidade Igarapé do Costa, em Santarém, oeste do Pará. A visita fez parte da 4ª edição do Programa de Imersão Prática de Férias, promovido pelo zoológico ZOOUNAMA.

Duante a atividade, os universitários conheceram de perto 11 filhotes da espécie Trichechus inunguisnia e participaram de atividades práticas, como biometria, manejo e observação do processo de aclimatação dos animais ao ambiente natural. Os participantes também acompanharam a soltura de 18 espécimes de quelônios oriundos de apreensões de órgãos ambientais: 08 tracajás (Podocnemis unifilis); 04 Tartarugas-da-Amazônia (Podocnemis expansa); 03 Aperemas (Rhinoclemmys punctularia); 02 Pitiús (Podocnemis sexteturbeculata) e 01 Cágado-de-poças (Mesoclemmys gibba).
Para o médico-veterinário Jairo Moura, integrante da equipe técnica do ZOOUNAMA, a experiência representa uma oportunidade ímpar de aprendizado. “Esses alunos estão tendo contato direto com peixes-bois que já passaram da fase de filhotes e estão em aclimatação. Eles estão sendo nutridos apenas com plantas aquáticas e se adaptando às características físico-químicas da água do rio. Após a captura, realizamos a biometria para acompanhar o crescimento corporal dos animais. É a teoria sendo aplicada na prática”, explicou.

Encontros e reencontros - Da UNAMA Belém (PA), a estudante do 10º semestre do curso de Medicina Veterinária, Cecília Videira, carrega no sangue a paixão pela natureza. Filha do biólogo Luís Videira, idealizador do Clube do Pesquisador Mirim, Museu Paraense Emílio Goeldi, ela cresceu entre livros, animais e visitas ao museu. “Desde criança eu ia com meu pai para o museu. Ele dava aulas para crianças e me ensinou a importância do cuidado com os animais. Minha mãe também sempre esteve envolvida com ações sociais. Isso me inspirou a seguir esse caminho”, contou.
Formada em Direito, Cecília decidiu mudar de área ao perceber que sua verdadeira vocação estava na Medicina Veterinária. Hoje, atua como voluntária em um instituto local e participa de resgates de peixes-bois. “Essa vivência reforça ainda mais meu propósito. A conservação não pode ser separada das pessoas. Elas são fundamentais nesse processo”, afirmou.
Débora Brach, do oitavo semestre da Universidade Guarulhos (SP), conheceu a Amazônia de pertinho pela primeira vez. “Nunca imaginei que estaria com o pé na água ao lado de um peixe-boi. A gente estuda muito, mas estar com o animal, de verdade, muda tudo. É uma experiência nota 10. A prática dentro do rio é algo que a teoria não oferece".
Ela também destacou a importância da educação ambiental como ferramenta de transformação. “A conscientização ainda caminha devagar. As pessoas precisam entender que não é só sobre ter um animal em casa. É sobre respeitar o ciclo da vida e o papel de cada espécie no ecossistema”.
Primeiros passos, grandes descobertas - Larissa Cardoso, caloura da UNAMA, viveu a imersão como um marco em sua formação. “É um privilégio estar aqui. Estou descobrindo um mundo novo. A prática está mudando tudo no meu ponto de vista. A responsabilidade de estar nesse projeto é enorme e eu me sinto honrada”.
Natural de Belém, o amor de Larissa pelos animais vem da infância, pois foi cultivado em uma família que sempre ensinou o respeito à natureza. “É um sonho de criança se realizando. E poder começar a faculdade com essa vivência vai marcar minha trajetória”.
Da UNINASSAU Natal (RN), Vitor Freitas, estudante do 6º semestre, participou ativamente da biometria dos peixes-bois que serão soltos no próximo dia 16. “Foi uma experiência única, com toda a certeza. Muito bom ter esse contato tão próximo com os animais. Foi um grande prazer poder contribuir com o manejo e a verificação da biometria deles”, relatou.
Além do impacto acadêmico, ele destacou o valor ambiental da atividade. “É um trabalho muito bonito que o ZOOUNAMA faz na reabilitação desses peixes-bois. E, com toda certeza, eles vão continuar melhorando isso nos próximos anos, nas próximas décadas. Isso vai ajudar muito a fauna local e a fauna brasileira”, completou.
Compromisso com a conservação - A ação contou com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). O agente de fiscalização Janderson Reis destacou a importância da presença do órgão nas comunidades. “A gente orienta os comunitários sobre a preservação. Eles precisam ser os primeiros a protegerem esses animais, pois, às vezes, tem muitas pessoas que vêm de fora, se dizem moradores e acabam cometendo crimes contra essas espécies”.
Para o gestor do ZOOUNAMA, Hipócrates Chalkidis, a atividade marca o encerramento de um ciclo e o início de outro. “Finalizamos uma etapa da imersão, mas também iniciamos uma nova fase para esses animais. É gratificante ver os alunos transformando suas vidas e contribuindo para a conservação da fauna amazônica. O que estamos fazendo aqui é resultado do comportamento humano. Não deveria ser necessário. Porém, como é, fazemos com responsabilidade e transformação".
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